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quinta-feira, 14 de março de 2013

A dissolução dos egos que almejam virtudes


Que este conhecimento chegue aos desesperados que estão perdidos na luta pela superação de seus próprios defeitos e estejam necessitando das informações que seguem.

Vamos falar um pouco sobre os egos úteis e bons. Dizem os V.V.M.M que existem eus bons que, ao serem eliminados, são substituídos por partes correspondentes do Ser que desempenham as mesmas tarefas, porém de forma muito mais eficiente e sem os efeitos colaterais destrutivos dos egos que anteriormente as realizavam. Se um homem trabalha como vendedor, por exemplo, e dissolve seus egos vendedores, o ato de realizar as vendas passará a ser realizado por alguma parte do Ser que tem habilidade na área, porém o fará de forma superior. Um mesmo ato pode ser realizado por um ego ou por alguma parte do Ser. O ato de compor e executar músicas, por exemplo, pode ser um ato inferior e animalesco ou um ato superior e sublime. Quando o ego o realiza, teremos um tipo de produto e, quando o Ser o realiza, teremos outro. Se o ego que realiza um ato é eliminado, alguma parte do Ser poderá, sempre que necessário, substituí-lo na realização do mesmo ato que, a partir de então, será realizado de forma diferente. Até mesmo o ato sexual pode ser realizado pelo Ser ou pelo Ego. São os resultados que irão nos mostrar.

Há, no entanto, um tipo específico de ego bom que descreverei hoje: os egos que almejam a santidade e cobiçam a liberação dos pecados.  São egos que possuem intenções veneráveis e irreprováveis mas apresentam efeitos colaterais danosos.

Aqueles que desejam intensamente libertar a alma dos pecados sofrem muito com a lentidão natural do processo da Morte. A Morte dos Defeitos não é algo rápido, que ocorra do dia para a noite. No entanto, os egos ascetas e espiritualistas podem ocasionar grande sofrimento e graves danos emocionais aos irmãos de todas as religiões que almejem ardorosamente o estado de santidade e pureza.

Quando uma pessoa não aceita a crua realidade dos seus próprios defeitos e não se conforma com a situação em que se encontra (refiro-me a uma inaceitação e a um inconformismo doentio) pode desenvolver neuroses. Certas neuroses são típicas de religiosos e ascetas espiritualistas e se devem à atuação de poderosos egos que anseiam pelo estado de pureza e entram em choque frontal com os egos que amam os prazeres da vida mundana.

Por mais estranho que pareça, existem egos que desejam, de forma inconsciente e condicionada, a evolução espiritual e os mesmos necessitam ser eliminados como quaisquer outros. Ao serem eliminados, partes correspondentes do Ser os substituem e realizam com maior eficiência o trabalho de nos impulsionarem para cima.

A inaceitação e o inconformismo com o estado de adormecimento e pecado apresentam duas facetas, dois aspectos: o inferior e o superior, sendo um egóico e o outro átmico (originado pelo Ser). A inaceitação e o inconformismo egóico ocasionam as neuroses religiosas. O intenso sofrimento emocional que advém após a satisfação dos desejos mundanos, sejam eles a fornicação, a gula ou quaisquer outros, é o princípio da neurose religiosa e se deve a tais egos “espiritualistas”, os quais possuem propósitos nobres e resultados catastróficos. Assim, temos que nos observar e nos descobrir também nesses aspectos relacionados com os desejos de superação de nós mesmos, pois aí existirão defeitos escondidos e disfarçados de virtudes.

Se explorarmos nossos próprios complexos espiritualistas, por meio da auto-observação e também da meditação, poderemos descobrir o medo do castigo divino, a preocupação com o próprio destino após a morte, a cobiça por poderes psíquicos e por estados de felicidade espiritual, o conservadorismo arbitrário e moralista que não possui lógica alguma, o fanatismo, a auto-depreciação, o ódio a si mesmo e muitos outros defeitos, os quais podem estar por trás da vida emocional atormentada de muitos religiosos. Não importa se os egos sejam bons ou maus, no final, eles sempre ocasionam prejuízos.

É importante frisar que não estou pregando o conformismo e nem a negligência, estou somente chamando a atenção para o fato de que os egos podem tomar o lugar do Ser (e vice-versa) nos impulsos pela superação. Quando a Mãe Divina dissolve os egos espiritualistas, as neuroses espirituais são substituídas por disciplinas conscientes dirigidas pelo Ser. Nossa meta não é sofrer a vida inteira por sermos pecadores, mas de fato deixarmos de ser pecadores para sermos felizes.

É natural que queiramos a libertação dos pecados e a verdadeira pureza do coração, mas a realização da alma não é algo assim tão simples, não é simples questão de querer. Não basta querer e tentar, é preciso adquirir muito conhecimento experiencial, o que é gradativo. A alma não se desenvolve por um passe de mágica, necessita trabalhar e adquirir conhecimento, experiencia e consciência ao longo da vida, o que é um processo muito lento. Se estamos presos em vícios e erros, é por falta de compreensão. E a compreensão é algo elástico, que se alonga conforme vamos aprofundando nossas observações e reflexões durante toda a vida. O estado de pureza dos budas e dos santos não resultou do simples querer, resultou de trabalhos sem fim ao longo de existências. 

Normalmente, as pessoas não entendem corretamente a Morte do Ego. Imaginam que seja uma mera disciplina de esforços para "amarrar" emoções e desejos, como se isso os eliminasse. A Morte do Ego é uma verdadeira morte dos desejos e emoções inferiores e não o mero encarceramento dos mesmos. Encarcerar desejos e emoções negativas não nos liberta.

Bem, este é apenas o meu ponto de vista pessoal sobre o problema. Espero ter me feito entender.