Translate

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Morte do Ego: não distrair-se com os defeitos


Na auto-observação, a meta não é entreter-se contemplando os defeitos, nem tampouco procurá-los quando não estão se manifestando. O objetivo da prática é perceber as manifestações concretas que ocorrem espontaneamente, evocadas pelo ginásio da vida. O ginásio da vida são as diversas situações exteriores que nos alteram e afetam psicologicamente, provocando o afloramento dos defeitos que estão ocultos. 

Quem não observa a si mesmo, não percebe quando se identifica, não vê quando se altera e nem se dá conta das manifestações que vão ocorrendo. Esquecido de si mesmo, o pobre adormecido vegeta, sem ter consciência alguma dos processos psicológicos que lhe acometem, somente percebendo os frutos desastrosos da atuação do Ego, quando os desastres já estão consumados.

Portanto, observar a si mesmo é algo muito conveniente e indispensável para quem quer alcançar a Morte. Mas há que se entender corretamente como se faz tal observação.

Observar a si mesmo não é ficar recordando dos defeitos, pensando nos erros, procurando os desejos a toda hora. Não é ficar correndo atrás do Ego, ainda que com a boa intenção de compreendê-lo. Quem fica correndo atrás do Ego perde sua existência. 

Não corra atrás do Ego, deixe que ele venha até você e esqueça-o quando não estiver aparecendo. Não se preocupe, ele surgirá no seu devido tempo. Aprenda a olhar para si mesmo sem se recordar do mal. Preste atenção no presente, no que está fazendo aqui e agora, e se esqueça de tudo o mais. Em tal estado receptivo, você perceberá quando algum defeito invadir sua personalidade, estará consciente e poderá colocar a Morte em Marcha em ação. Um dos erros que nós cometemos no passado, quando estávamos na Nova Ordem, foi nos ocuparmos com o Ego em tempo integral, motivo pelo qual não morremos. Fomos vítimas da crença errônea de que deveríamos correr atrás do Ego para eliminá-lo e compreendê-lo.

Ocupar-se com os desejos é uma forma de fortalecê-los. Não se ocupe com as coisas feias e erradas que você fez ou faz, esqueça-as. Apénas observe-se no presente, o Ser proverá o resto.

Na didática gnóstica, a Morte ocorre por conscientização e enfraquecimento. A consciêntização não consiste em reter os defeitos na consciência, consiste somente em perceber sua manifestação concreta e em esquecê-la. O movimento é o de tocar e largar, não o de agarrar e prender. Apenas vemos, nos damos conta, e esquecemos em seguida. O enfraquecimento vem pela oração á Mãe Divina. Quando os detalhes são percebidos, mortes e esquecidos, o defeito que configuravam vai perdendo força, até desaparecer. O processo é o de tirar a força e não o de fazer força contra. Quanto mais tiramos a força de um defeito, menos nos ocupamos e nos preocupamos com ele.

Aprendamos a viver o esquecimento, o desprendimento. 

Enquanto alguém corre atrás de um defeito, não se dá conta das inumeráveis alterações psicológicas que invadem sutilmente sua personalidade. Se estivesse simplesmente observando-se aqui e agora, perceberia as nuances e detalhes dessas alterações psicológicas reais que lhe afetam a todo momento.

O que buscamos é penetrar na realidade do Ego por meio da observação direta do que acontece no presente e não por meio de elocubrações teóricas e imaginações absurdas. Queremos enxergar a realidade concreta dos egos e isso não é possível fora do terreno observacional do presente. Você não pode ver o Ego ontem, amanhã, lá ou acolá, somente agora e aqui. 

Observar a si mesmo significa observar a própria pessoa que somos, a pessoa concreta. Quem observa sua própria pessoa concreta, sem distrair-se pensando sobre seus defeitos e nem procurando-os onde não estã, verá claramente as alterações que vão ocorrendo nos centros e perceberá as nuvens que vão se formando quando a identificação com algo está em curso. Isso é o que necessitamos: ser perceptivos em relação a nós mesmos.

Quando uma pessoa está se observando corretamente, percebe detalhadamente todas as alterações psicológicas e comportamentais que lhe ocorrem. Quando está distraída com algum pensamento ou desejo, não percebe nada ou percebe muito vagamente.