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terça-feira, 17 de abril de 2012

Alcançando e preservando os momentos de paz interior

Após a satisfação do desejo, ele nos dá uma trégua e muitas vezes nos arrependemos. Há, por assim dizer, um vácuo ou ruptura em sua manifestação. Uma vez alimentado, o desejo se afasta temporariamente, somente para retornar com mais poder sobre nós em seguida, pois colheu energia e se nutriu. A satisfação exige identificação e arraiga fortemente o desejo em nossa personalidade, reforçando e criando sanskaras (conjuntos de sinapses).

A trégua pós-satisfação nos permite conhecer, por um breve tempo, o que seria o estado de tranquilidade na ausência do desejo. O desejo é uma perturbação que insiste teimosamente e nos abandona após a satisfação, durante a meditação e também após a morte do "eu" correspondente. Na ausência do desejo há paz e felicidade, sem perturbação. Tal é o estado que buscamos alcançar e perpetuar. As pessoas buscam a satisfação do desejo para se livrar do desassossego, pois o desejo incomoda, perturba. A satisfação não é uma forma recomendável de nos livrarmos do problema, há outras muito melhores. Experimentamos de forma positiva tal estado através da meditação e o concretizamos definitivamente através da Morte Mística.

Observe-se nos momentos em que estiver temporariamente livre da perturbação de um desejo específico. Você estará tranquilo, livre em relação àquilo. No entanto, se você conquistou essa paz por meio da satisfação e não pelos meios corretos, saiba que o desejo voltará com muito mais força em breve. À medida que repetir o ato e o satisfazer mais e mais para se livrar do tormento, menores e menos intensos serão os momentos de satisfação, a insatisfação aumentará e mais escravizado você se tornará. Renuncie a esta via funesta e não tente conquistar a paz interior pelo equivocado caminho satisfação, busque-a através da Morte e da meditação.

Se você olhar para si mesmo após a satisfação, verá que se encontra tranquilo em relação ao desejo. Contudo, bastará um simples pensamento ou lembrança relacionados com o objeto desejado para que o elemento psíquico comece a colher força novamente. Sendo assim, o segredo para se manter em tal estado de liberdade espiritual consiste em:

1. Observar a si mesmo nas diversas situações ao invés de se deixar fascinar pelas mesmas (o foco central da consciência é você e as situações são percebidas pela consciência periférica);

2. Adotar tolerância zero com todas as formas de alimentação do desejo, incluindo, principalmente, as manifestações na mente (pensamentos, lembranças), na fala e nas atitudes;

3. Sempre orar à Mãe Divina pela morte de cada detalhe psíquico descoberto.

Preservar o estado de liberdade interior é a meta. Não permitir que os pensamentos criem força é imprescindível e também crucial. A queda do homem começou pelo pensamento e seu resgate também deve começar por aí.

Os egos, sejam detalhes ou não, são criaturas mentais viventes. Quem suprime a alimentação mas não pede a morte dos detalhes alimentadores, não irá longe, apenas adiará um pouco suas manifestações. Quando não oramos à Mãe Divina pela Morte, os detalhes continuam vivos e permanecem molestando.

Um simples pensamento poderá tirá-lo do estado de paz interior em que você talvez se encontra agora. Você está na palma da mão do Buda e daí cairá por uma simples lembrança, um simples pensamento.

A atuação do Ego pode ser comparada ao efeito borboleta: um simples bater de asas pode provocar uma tempestade. Não permita que o inseto bata as asas. A cada vez que o inseto bate as asas, uma tempestade de nutrição e criação de defeitos se forma. Impeça-os de nascer, aborte-os. Vá direto ao ponto inicial, "de onde dependem todas essas coisas" (V.M. Rabolú). Assim você preservará a paz interior.

Procedendo desta maneira, podemos nos firmar mais e mais no Ser, dimuindo progressivamente o domínio dos egos. O Ser é o verdadeiro e legítimo Senhor do corpo físico. O ser humano não foi feito para sofrer, mas sofre porque alimenta a dor dentro de si mesmo.

As quedas e fracassos no trabalho não devem nos perturbar, devem apenas ser usadas como indicadores do momento em que erramos. Os fracassos fazem parte do caminho do sucesso e devem ser tomados com naturalidade, porém sem conformismos e nem passividades.

Você prolongará o estado de paz interior e ausência de desejo se não permitir que os pensamentos comecem a exauri-la.