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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A singularidade de cada relação

Na vida, temos relações de diversos tipos e com muitas pessoas, coisas e objetos. Com cada pessoa temos uma relação distinta, que necessita ser trabalhada especificamente.

As pessoas provocam em nós diversos sentimentos, pensamentos e reações. Temos que investigar e descobrir o que sentimos em relação a cada uma das pessoas com as quais nos relacionamos. Uma pessoa me provoca ira, aquela outra me provoca inveja, outra me faz rir e outra talvez me provoque desejo.

Minha mãe evoca em mim determinados sentimentos, minha irmã outros sentimentos, meu irmão, meu pai, meus amigos etc. provocam em mim distintas emoções, reações e comportamentos. Mediante a reflexão, tenho que descobrir o que cada pessoa provoca em mim.

Nos relacionamos também com acontecimentos, fatos, objetos, animais, dinheiro, emprego e outras coisas. Todas as relações que tenhamos na vida devem ser exploradas, analisadas, em busca das reações que provocam em nós. Tudo isso é parte da compreensão do Eu.

A análise do Ego, visando a compreensão, não deve pautar-se somente pela procura do que é "feio", "errado", "mau" ou "moralmente inaceitável". Aquilo que parece "bom" ou inofensivo também necessita ser assimilado, compreendido, pois o delitos se disfarça muito bem e engana até os mais cuidadosos.

Na análise e observação do Eu, nada pode ser descartado, nada é depreciável. Todas as reações que os acontecimentos nos provocam merecem ser descobertas, conscientemente percebidas.

Temos que nos perguntar: "O que sinto diante desta pessoa? E diante dessa outra? E diante daquela?". Temos que nos tornar conscientes das reações mentais, emocionais, motrizes, instintivas e sexuais que TODOS os fatos da existência (pessoas, objetos, acontecimentos, problemas etc. ) desencadeiam em nossa pessoa. Nos detalhes, no sutil, está a chave. Um complexo sistema resulta sempre da associação de múltiplos elementos sutis, pequenos. Observando os detalhes, compreendemos paulatinamente todo o sistema complexo. Teorizações não adiantam, importa perceber fatos. Os fatos são concretos e definitivos.

Quanto mais nos observamos, mais material teremos para refletir. A reflexão sobre o Eu deve ser o mais objetiva possível, pautada em fatos reais, vividos, verificados diretamente, e não em meras elocubrações estéreis.

Portanto, não desprezemos as diversas relações da vida. Cada relação é uma oportunidade de aprendizado, contém informações que precisamos extrair.

Subaproveitamento do ginásio psicológico

As relações constituem um ginásio psicológico mediante o qual podemos nos conhecer e descobrir facetas do Ego. Cada situação que nos acomete provoca reações psicológicas grosseiras e pesadas ou leves e sutis. As situações são como espelhos que refletem o que somos: a cada fato que nos sucede, determinadas facetas dos defeitos emergem, aparecem.

Normalmente, desperdiçamos tais oportunidades de auto-conhecimento porque nos identificamos com o ginásio psicológico e deixamos de perceber o que se passa em nosso interior. O comum é que os fatos nos aconteçam e passem, sem que os aproveitemos para descobrir algo novo sobre nós mesmos. Se estamos receptivos ao Ego, entretanto, percebemos conscientemente que a cada fato exterior sucedem-se em nós múltiplas reações interiores.

As reações sutis são as mais importantes, do ponto de vista da Morte, pois escondem aquilo que normalmente não vemos. Quem quer descobrir o novo em si mesmo, deve observar as reações sutis. Em um ônibus, por exemplo, há muitas reações sutis às situações e acontecimentos presentes: reações ao motorista, aos demais passageiros, ao estado em que se encontra o ônibus etc. Em casa, no lar ou no trabalho, temos múltiplas reações ao que cada pessoa diz ou faz. Normalmente, as múltiplas reações passam despercebidas porque não lhes damos importância, não as consideramos dignas de observação cuidadosa. Ao não serem observadas conscientemente, processam-se de forma inconsciente, reforçam os defeitos, causam muitos danos e percebemos somente as consequências, quando já estão bem graves. É assim que ficamos nos debatendo contra a ira, o medo e a luxúria, tentando reprimi-los e controlá-los ao mesmo tempo em que os reforçamos sem nos darmos conta.

O que sentimos, pensamos e como reagimos perante cada fato ou pessoa precisa ser percebido conscientemente, de forma sincera, imparcial e sem preconceitos. Se não procedemos assim, não avançamos no auto-conhecimento.