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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O fluxo mental na concentração

Deixar a mente fluir

Quando a mente atua, pensando em alguma coisa, dizemos que ela está fluindo. O fluir da mente é a reflexão a respeito de algo.

A mente volúvel interrompe o curso de seu fluxo constantemente, pensa um pouco em algo e depois pensa em outra coisa. Quando trocamos o objeto de nossa reflexão constantemente, nos tornamos superficiais.

O pensamento concentrado é o pensamento que flui profundamente, de forma contínua e não descontínua, sem interromper a reflexão, sem alternar seu objeto. O pensamento concentrado não é o pensamento estático, é um pensamento dinâmico, que se aprofunda e se afunila cada vez mais. O pensamento único da concentração é a soma de várias idéias a respeito de um único e mesmo tema. Se não houver uma sequência de idéias, não haverá fluência no pensamento. Se não houver fluência, não haverá pensamento concentrado, haverá tão somente um pseudo-silêncio mental, forçado e superficial, acompanhado por violenta tempestade mental inconsciente, nas zonas submersas da psique.

Se queremos a concentração verdadeira, para sairmos em astral e meditarmos, necessitamos compreender corretamente o que é o pensamento único. O pensamento único é a reflexão sobre um único tema. Não é um pensamento estático, como supõem muitas pessoas interessadas na meditação.

O pensamento não será único se permitirmos que o fluxo mental sofra constantes interrupções, que mude constantemente de objeto, de tema. O papel da atenção consciente é perceber o que se está pensando e dar pequenos "tapas" para "balizar" (direcionar) a reflexão, caso a mesma se desvie do assunto em pauta.

Concentração não é ausência de pensamento e sim ação mental direcionada.

Há duas formas de fluxo mental: o fluxo consciente e o fluxo inconsciente.

O fluxo mental inconsciente acontece automaticamente no cotidiano. É a atividade mental sem objetivo, aleatória. Todos vivemos pensando à toa, mariposeando de assunto em assunto. Esse é fluxo mental inconsciente, no qual a pessoa sequer se dá conta de que está pensando e em que está pensando.

O fluxo mental consciente possui duas características: não é aleatório e não se dá sem participação da consciência. A consciência o acompanha, o percebe. No fluxo mental consciente há contemplação do que acontece na mente. A consciência observa o trabalho da mente, contempla o desenvolvimento da reflexão, do pensamento único. Além disso, não há troca do tema da reflexão, a mente não mariposeia de tema em tema. Portanto, no fluxo mental consciente pensa-se conscientemente em uma só coisa, até onde se alcance. O fluxo mental consciente é a própria concentração mental.

Pensar sem palavras

Podemos pensar usando uma linguagem ou idioma interiorizado (a "vozinha" interior") ou pensar sem recurso idiomático algum. Quando avançamos no desenvolvimento da concentração, conseguimos pensar e compreender silenciosamente e sem nenhuma tagarelice interior.

Deixar a mente trabalhar

Deixar a mente fluir é permitir que trabalhe, porém sob nossa vigilância. A mente trará as informações sobre o objeto.

Contemplar sem interferir

Se a mente está trabalhando dentro do tema proposto, não há porque interferir. O conteúdo das imagens mentais que vão surgindo não é escolhido por nós, a não ser que a mente nos traga algo que nos desvie do objetivo proposto. Se quero me concentrar nos raios do sol, não escolherei as informações que a mente trará, apenas acompanharei o processo. A interferência somente se justifica quando a mente se desvia do objetivo proposto, que é compreender o tema.

Reunindo informações

Quando concentramos o pensamento em algo, estamos reunindo todas as informações conscientes e inconscientes que dispomos na mente a respeito daquilo. Quanto mais profunda é a concentração, mais informações obtemos. O conhecimento já existe previamente no interior do homem.

Concentração do pensamento e concentração no que se faz

Assim como, no dia a dia, temos que contemplar conscientemente o que fazemos para não cometermos erros, não nos acidentarmos etc. do mesmo modo temos que contemplar os pensamentos quando, durante a prática da concentração, todas as atividades motrizes cessam.

Se estou dirigindo um carro, tenho que estar contemplando conscientemente tudo o que esteja relacionado ao que estou fazendo, para evitar acidentes. Do mesmo modo, quando estou com olhos fechados, em relaxamento profundo, tenho que contemplar conscientemente em que estou pensando, pois a única atividade que resta neste momento é a mental.

Não há sentido algum em tentar concentrar o pensamento se estamos com o centro motor ativo. Neste caso, temos que concentrar a atenção no que estamos fazendo para não sofrermos acidentes, não tropeçarmos, não ferirmos ninguém. Tudo tem o seu momento correto.

Não devemos confundir, portanto, focalização da atenção com concentração do pensamento. A atenção pode ser focalizada na atividade motriz, mas pode também ser focalizada na atividade mental. São duas coisas distintas e cada uma tem o seu momento. Quando estou com o corpo físico ativo, tenho que prestar atenção no que estou fazendo. Quando meu corpo físico está em repouso (e, portanto, nada estou fazendo), tenho que prestar atenção no pensamento que estou desenvolvendo. Quando estamos trabalhando, passeando etc. o foco da atenção é o que fazemos, quando estamos deitados ou sentados para meditação, o foco da atenção é o pensamento único.

A natureza do pensamento único

Muitos pensaram que o pensamento único fosse um pensamento estático. Confundiram pensamento único com pensamento congelado.

O fato de um pensamento ser único não significa que seja composto por uma única idéia ou que não flua. Também não significa que as informações não fluam para a consciência.

O pensamento único é o mesmo pensamento que se tem durante uma distração comum, porém com a diferença de ser prolongado, consciente, profundo e não alternante.

Pensamento único e esquecimento

O pensamento único exige o esquecimento e abandono total de tudo o que não seja o lakhsya (objeto de concentração). O abandono (vairagya) é algo que pode ser exercitado e desenvolvido indefinidamente. Vairagya é o desligamento, o abandono, o desapego, o esquecimento do mundo.

Pensamentos maus

Quando pensamos em coisas mundanas e pecaminosas, nossa mente flui facilmente. Quando tentamos pensar de forma concentrada em algo sublime, o pensamento não flui com a mesma desenvoltura. A mente flui com facilidade na direção dos desejos mundanos porque foi adestrada para isso, mas flui com dificuldade em direções sublimes porque não foi treinada durante a vida.

O pensar concentrado em algo superior é uma função atrofiada, que necessita ser desenvolvida. O pensar concentrado no mal é uma função hipertrofiada, que necessitamos deixar de exercitar. Degenerar-se, depravar-se e afundar no lodo da miséria é algo muito fácil de ser conseguido.

Quando um malvado está pensando detidamente em coisas ruins, está concentrado. Não é essa concentração que buscamos.