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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Como o Ego desgasta os centros da máquina humana

O corpo físico humano viveria indefinidamente e não ficaria desgastado e nem tampouco envelheceria se não existissem agentes extressores físicos e psicológicos. O ego e os impactos destrutivos do mundo físico provocam o desgaste e envelhecimento do corpo.

Nossos egos provocam utilização excessiva de cada um dos cinco centros inferiores e a subutilização dos centros superiores. Os “eus” provocam pensamentos, emoções, movimentos, atividades sexuais e instintivas de forma exagerada e intensa, sobrecarregando cada um do cinco centros.

Ao sobrecarregar os centros, pelo excesso de atividade, os mesmos ficam carentes de energia para trabalhar e manter máquina, o que os leva a “roubar” a energia de outros centros que estejam disponíveis. Deste modo, uma pessoa pode desenvolver um desequilíbrio emocional mesmo sem desgastar diretamente seu centro com baixas emoções, ou seja, mesmo que não seja um tipo passional que aprecie intensas emoções inferiores, uma pessoa pode apresentar complicações de saúde relacionadas com o desgaste do respectivo centro.

É importante analisar como o Ego (ou egos, no plural) atua para desgastar cada centro e provocar um desequilíbrio geral na máquina.

O uso prolongado e também o uso intenso de um único centro resulta em sobrecarga e desgaste. O que deve ser evitado, caso queiramos nos equilibrar, é o desgaste. Evitamos o desgaste quando não usamos um determinado centro por muito tempo e nem de forma muito intensa, o que se consegue à medida que o Ego vai morrendo, pois é o Ego o agente destruidor dos centros, são os nossos defeitos que nos levam a agir de forma exagerada e a cometer excessos.

O Ego pode nos levar a tecer exaustivas análises, raciocínios, discussões, cálculos, estudos, leituras, teorizações e, com isso, “queimar” a energia do centro intelectual. Ao se ver com carência de energia, o centro do pensamento irá roubar energia de outro centro, geralmente o sexual. Portanto, temos que evitar o uso excessivo da mente. O ideal é pensar o mínimo necessário, mantendo a cabeça leve e fresca.

Ao mesmo tempo, o Ego pode provocar intensas emoções inferiores (emoções negativas): preocupações, medos, sofrimentos, paixões e muitas outras formas de emoção. Todo defeito possui uma manifestação emocional e, ao atuar sobre o centro emocional, provoca o seu desgaste, seja pela intensidade das emoções que ocasiona, seja pela duração do tempo e da freqüência que as mesmas perduram. Quem vive o tempo todo curtindo, cultivando e saboreando emoções inferiores, está desgastando o seu centro emocional. São exemplos de emoções inferiores todas as emoções provocadas pelo Ego, tais como o ódio, a raiva, a ira, a vingança, o medo, a tristeza, os ciúmes, o apaixonamento, o amor emocional (inferior), as emoções da fornicação, da masturbação, as emoções dos jogos, das touradas, dos filmes de ação etc. São tantas que não seria possível enumerar todas aqui. Eliminando-se o ego, elimina-se tais emoções. Por meio da Morte, damos um descanso ao coração e equilibramos o centro emocional. O equilíbrio deste centro não é questão de simplesmente “pararmos as emoções” e sim de morrer. Não basta simplesmente tentar “ser frio”. O recalque das emoções não as elimina e não reequilibra o centro.

Se nos observarmos com cuidado, descobriremos que estamos continuamente pensando e sentindo inutilmente. Os pensamentos ocorrem em nossa cabeça e as emoções no coração e é aí onde temos que descobri-los, observá-los e pedir por sua eliminação. Boa parte dos problemas que temos decorre do desequilíbrio destes dois centros.

O centro intelectual é o centro da mente, da atividade mental. A mente é como um asno teimoso e não adianta entrar em conflito com ela. Se quisermos silenciar a mente, temos que conhecer o procedimento correto. Entrar em conflito e tentar silenciar a mente à força é inútil e prejudicial. O correto é observar e compreender o que se está pensando. O pratyahara do Raja Yoga conduz a uma atenuação do pensar excessivo. Compreendemos os pensamentos quando os contemplamos conscientemente e nos damos conta do que estamos pensando. Tratar de perceber conscientemente os próprios pensamentos, observando-os ao invés de reprimi-los, é muito interessante (é uma prática que se pode realizar na meditação, após o relaxamento e antes da concentração). Os pensamentos surgem em procissão na mente e, quando contemplados conscientemente, aos poucos vão se esgotando. O que nos interessa é isso: esgotar os pensamentos. Se os pensamentos invadem e interferem quando estamos tentando nos concentrar em nossas tarefas diárias, temos que perceber a interferência ou nem sequer nos daremos conta de que nos distraímos. Não devemos procurar os pensamentos e nem estimulá-los, mas quando eles interferem temos que percebê-los ou permaneceremos distraídos. Para tanto, não necessitamos de uma grande análise, mas somente de uma percepção direta apurada, relacionada com o teor do pensamento, com seu conteúdo: que pensamento é este que entrou na minha frente agora? Trata-se somente de perceber e não de raciocinar a respeito. Aplicar o pratyahara não é procurar os pensamentos, ir atrás deles e nem ficar se recordando dos mesmos. É tão somente dar-se conta dos pensamentos que nos invadem, quando isso acontece. Se estamos conscientes do que estamos fazendo, concentrados no que nos interessa, não há motivo algum para nos recordarmos dos pensamentos. O que queremos é o esquecimento, a quietude mental, e não a recordação dos pensamentos.

É claro que, se estou dirigindo um carro ou realizando um trabalho perigoso ou delicado, não posso me desligar desligar das percepções sensoriais para me por a contemplar meus pensamentos, isso seria absurdo e perigoso. Porém, se não perceber meus desvios de atenção, não serei capaz de recolocá-la no objeto que me interessa no momento, no aqui e no agora. Quem não percebe os desvios de atenção (os pensamentos intrusos), se distrai e pode até se acidentar fisicamente.

Temos que cultivar, no dia a dia, a calmaria mental. Não estou dizendo que um principiante como nós deva viver em êxtase contínuo, mas sim que temos que minimizar a atividade mental o quanto pudermos no dia a dia para nos tornarmos mais lúcidos. Para tanto, basta nos concentrarmos naquilo que estamos fazendo agora, no presente. Procedendo assim, se algum pensamento intruso aparecer, o perceberemos. Perceber a intromissão de um pensamento, dar-se conta da distração, é algo análogo à prática do pratyahara, embora não tenha a mesma profundidade, porque não podemos desligar os sentidos físicos no dia a dia, durante o trabalho ou na rua.

Se a mente, que se manifesta fisicamente pelo centro intelectual, é como um asno teimoso, o centro emocional é como um elefante louco. Não é fácil acalmar este elefante. O ideal é praticar a Morte em Marcha constantemente, para não permitir que o elefante enlouqueça. Mas se, por motivos que alheios à nossa capacidade, o elefante saiu do controle, então convém apelar para alguns procedimentos apaziguadores. Um meio é acalmar o centro motor, por meio do relaxamento, e o centro intelectual, por meio do pratyahara. Outro meio é substituir as emoções inferiores pelas emoções superiores. Pode ser que, em casos extremos, precisemos tomar algumas plantas calmantes, para ajudar. É claro que a combinação de todos esses procedimentos pode ser muito útil em casos graves.

Simplesmente reprimir as emoções, tentando “não sentir nada”, costuma ser o pior dos caminhos. O elefante louco não se deixa controlar e se torna cada vez mais furioso. O que se requer é estratégia. Antes de tudo, temos que sentir conscientemente as emoções. Tentar não sentir as emoções e ao mesmo tempo querer compreendê-las é um contra-senso. Quem quer se livrar de uma emoção ruim deve senti-la conscientemente e não tentar fazê-la retroceder pela força, assim de qualquer maneira e violentamente. Assim como a mente, as emoções reagem às tentativas de controle arbitrário.

Além de desgastar os centros intelectual e emocional, o ego desgasta o centro motor com movimentações musculares intensas, desnecessárias, prolongadas e freqüentes. Excessos de exercícios físicos, de trabalhos braçais e de esforço muscular desgastam o centro do movimento. O relaxamento dos músculos permite o descanso do centro motor. Pessoas tensas e que se movimentam desnecessariamente e sem parar, estão abusando deste centro. Trabalhadores, dançarinos e atletas que cometem excessos estão igualmente caindo no abuso. O ideal é desenvolver qualitativamente as capacidades motrizes, sem desgastes.

Há ainda o desgaste do centro instintivo pelo Ego, o qual me parece ser o centro de acesso mais difícil à auto-observação. O desgaste do centro instintivo se verifica por excesso de processos corporais indispensáveis à sobrevivência e à manutenção da vida. O ego provocará o desgaste deste centro ao provocar exageradamente processos digestivos (comendo muito), impedir o descanso e recuperação (dormindo pouco), processos excretores, processos de regeneração (ingerindo substâncias prejudiciais) e todos os processos corporais relacionados com a manutenção da vida biológica.

E, por último (ou talvez em primeiro lugar) temos o desgaste do centro sexual, o qual provavelmente é algo muito claro para todo mundo. A atividade sexual excessiva, tão comum e incentivada hoje em dia, sob todas as suas formas, provoca este desgaste. Toda vez que sentimos uma excitação morbosa na parte sexual, estamos utilizando a energia deste centro. Se o utilizarmos em demasia, “queimaremos o seu combustível”. Após um orgasmo, podemos perceber certa sensação mórbida de vazio. Tal sensação assinala falta de energia neste centro.

O problema não é o uso, mas sim o abuso de cada um dos referidos centros. Os centros existem para serem usados. O erro está somente em usá-los em demasia, seja por fazê-los trabalhar por longas horas seguidas, seja por fazê-los trabalhar de forma intensa, seja por fazê-los trabalhar com uma freqüência exagerada.

Uma primeira forma de reequilibrarmos os centros é descansar o suficiente. Quem não dorme, não descansa e não abaixa o seu metabolismo, está usando os centros em excesso. Por tal razão, é indispensável aprender a meditar e a dormir profundamente. Temos que sair do corpo para que os centros descansem. O Ego deve ir para a quinta dimensão e deixar o corpo físico temporariamente para que haja recuperação.

Uma segunda, mas não menos importante, maneira de reequilibrarmos os centros é aprender a usá-los somente o necessário, para o que for necessário e não mais que o necessário. Temos que usar os centros levemente, aprender a economizar energia, viver na leveza, dentro do possível. É importante não usar um único centro por muito tempo (ex. ler, discutir ou exercitar-se por várias horas seguidas) e nem obrigá-los a trabalhar de forma pesada, mais do que suportamos. O ideal é trocar continuamente de centro: caminhar um pouco, depois ouvir uma música, depois alimentar-se, depois pintar um quadro, depois trabalhar, depois estudar etc. Aprender a variar o uso dos centros é de suma importância: usa-se cada centro por tempo não muito longo e então passa-se a usar outro centro, isto é, adota-se outra atividade distinta, que ponha outro centro em funcionamento.

Temos que evitar o cansaço. O cansaço é um indicador de desgaste.

Não é demais lembrar novamente que o desgaste de um centro específico pode provocar o desgaste de outro centro que não é muito usado. Um atleta poderá desequilibrar seu centro sexual ao abusar dos movimentos, pois seu centro motor irá roubar do centro sexual a energia que lhe faltar. E o centro sexual poderá roubar a energia do centro emocional, desequilibrando este centro e assim por diante. Os centros, quando sobrecarregados, passam a utilizar a energia de outros centros e provocam uma desordem total no organismo.

Portanto, se você não é emotivo, não pense que, por tal motivo, você está livre do desequilíbrio emocional ou, se você é sedentário, que está livre do desequilíbrio do centro motor. Quem quer equilibrar-se, deve eliminar o desgaste excessivo de todos os centros e isso não será possível sem a Morte, pois são os egos que provocam atuações excessivas.

Outro ponto que merece nossa atenção é o desgaste inconsciente. Podemos usar os centros sem nos darmos conta. Nossos comportamentos inconscientes também desgastam os centros. Pensamentos de luxúria que passam sem serem notados não deixam de usar a energia dos centros intelectual e sexual. Todo ego, ao atuar, utiliza as energias dos centros, ainda que não os estejamos observando. O fato de um dado comportamento ser inconsciente não significa que o mesmo não esteja consumindo energia. Não somente os comportamentos conscientes, mas também os comportamentos inconscientes necessitam da energia dos centros para se processarem. A Morte do Ego, ao trazer à consciência e promover a eliminação de comportamentos prejudiciais, abusivos e desnecessários que antes se processavam inconscientemente, permite deter tais desgastes.

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