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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Meditação - recuperando os dispersos percentuais de essência livre

Temos percentuais de essência livre e percentuais de essência engarrafada dentro de cada defeito. No entanto, os percentuais de essência livre não estão despertos, estão adormecidos, acompanhando os percentuais de essência engarrafada. Assim como cada "eu" aprisiona dentro de si frações de essência, o Ego como um todo circunda percentuais de essência não engarrafada e os sujeita ao condicionamento fascinatório. Portanto, o Ego, como um todo, é uma grande garrafa, no sentido de que atrai, envolve e prende a si, por meio da fascinação, percentuais de essência livre.

Cada "eu" é uma pequena garrafa e o Ego, como um todo, é uma grande garrafa. As porções de essência aprisionadas dentro de cada defeito ou "eu" estão em um estado de sonolência profunda. As porções de essência livre, mas fascinadas pelo Ego, estão em estado de distração e preguiça, inativas. Estão distribuídas ao longo das regiões inconscientes da psique, espalhados através dos vários níveis. Os pensamentos são o agente que mantém a essência livre fascinada, inativa, distraída.

A atividade mental é o ponto-chave. Quanto mais se pensa, mais se distrai e se adormece a essência livre. Para ativar os percentuais preguiçosos de essência, o primeiro que se requer é o silêncio mental. A mente ativa distrai a essência. A mente quieta a liberta para trabalhar. Quando os pensamentos se esgotam, o Ego se ausenta. Praticar a concentração é dar um passo rumo ao silêncio mental.

O primeiro impulso do meditador novato, ao dar-se conta da intromissão de um pensamento que lhe perturba a concentração, é tentar silenciá-lo à força, opondo-se e entrando em conflito. É um procedimento equivocado e que não resulta em verdadeiro silêncio.

Um pensamento intruso não se calará pela imposição forçada do silêncio, simplesmente se desviará, indo com sua tagarelice para outro nível da mente e ali prosseguirá atuando, agora sem ser percebido. Logo, é perda de tempo tentar aquietá-lo simplesmente à força, assim de qualquer maneira.

O procedimento que se requer para silenciar um pensamento é a contemplação consciente do mesmo, visando compreendê-lo. A compreensão promove o esgotamento dos pensamentos. Compreender é distinto de entrar em conflito.

A postura correta da consciência é a de não procurar os pensamentos e nem fugir deles, de não provocá-los e nem reprimi-los caso apareçam. É uma postura de neutralidade e imparcialidade, em que não se os valoriza positivamente e nem negativamente. Valorizar positivamente seria gostar dos pensamentos, saboreá-los e se identificar com eles. Valorizar negativamente seria detestá-los, fugir dos mesmos, tentar evitá-los, reprimi-los e criar conflitos.

Quem fica procurando pensamentos à toa, quando eles não estão presentes, os está estimulando. Cogitar um pensamento quando o mesmo não está molestando é iniciá-lo. Embora não seja correto procurar os pensamentos e seja importante reter o objeto de atenção no campo da consciência, necessitamos verificar, com certa frequência, se não há algo de desatento em nós, pois pode-se dar o caso de estarmos divididos. Quando estamos divididos, uma parte de nossa essência livre (que nos confere atenção consciente) permanece focada no objeto, enquanto outras partes ficam distraídas com os pensamentos, em vários níveis. Como queremos atenção integral, envolvimento de todas as partes da consciência, temos que verificar se estamos plenos, se há algo de desatento em nós. A consciência necessita estar plenamente focada no objeto da concentração, se estiver focada parcialmente, a prática não avançará. Os 3% de essência livre (e adormecida) devem se dissociar completamente dos 97% de Ego.

Ao longo dos 49 níveis do subconsciente estão distribuídas as frações do pequeno percentual (3%) de essência livre, que necessitam ser recolhidas e unidas. O Ego as mantém fascinadas e presas (não engarrafadas em sentido literal, pois estamos nos referindo às porções de essência livre, porém adormecida e condicionada pelos eus). Silenciar a mente em todos os 49 níveis do inconsciente significa dissociar a essência dos egos submersos, emancipando-a do efeito fascinatório dos pensamentos nesses níveis. Quando o pensamento se esgota, o ego se ausenta e algo da essência que está dispersa se torna temporariamente independente. Isso é sentido sob a forma de um aumento da sensação de leveza, do bem estar e da lucidez.

Trazer o que está desatento à atenção é acordar o que temos de alma e que está "esparramado" entre os Egos, atraído pelo poder fascinatório da mente. A essência que está ativa, incipientemente acordada, chama a atenção da essência que está livre, porém distraída, adormecida, sonhando com as bobagens, cenas mentais etc. oferecidas pelos Egos.

Quando buscamos nos concentrar, ficar lúcidos, despertos etc. uma parte de nossa essência livre se empenha neste trabalho, enquanto as outras partes da mesma, ainda que estejam livres, gozam com os sonhos e pensamentos. Temos que ser capazes de enxergar o adormecimento destas partes e trazê-las à lucidez, mas sem procurar pensamentos e nem estimulá-los.

Portanto, não são somente os percentuais de essência aprisionados em cada defeito que estão adormecidos. Os percentuais de essência livre também não estão despertos, pois estão sujeitos ao ego e terminam acompanhando os percentuais engarrafados em seus condicionamentos. Como pessoas que acompanham parentes aprisionados, permanecendo ali ao lado dos mesmos e não arredam pé, ao invés de se afastarem para negociar a soltura, os percentuais de essência livre acompanham os percentuais engarrafados em seus sonhos absurdos. Por tal razão, podemos dizer que a essência livre também está, de certa forma e em um certo sentido, engarrafada, pois os vários agregados psíquicos, com suas respectivas frações de essência engarrafada, a circundam e influenciam. Esta influência hipnótica dos múltiplos eus sobre a essência livre atua, também ela, como uma espécie de "garrafa". É desta grande garrafa que temos que retirar a essência durante a meditação e o fazemos à medida que silenciamos os pensamentos. São os pensamentos que distraem a essência com seus poderes hipnóticos. As partes adormecidas da essência (livre) necessitam ser alcançadas pela porção que está empenhada em despertar, para que sofram choques e saiam da preguiça, da inércia dos sonhos, fantasias e distrações.

Somente chegamos até estas partes adormecidas e submersas se o relaxamento e a concentração forem profundos, pois os vários níveis do sub/inconsciente se encontram nas diversas dimensões. Não podemos esgotar os pensamentos submersos se não adentrarmos conscientemente às dimensões ou mundos em que tais pensamentos estão. O processo iniciado aqui tem que se repetir de dimensão em dimensão, até o desprendimento total. Primeiramente ficamos conscientes aqui no mundo físico, nos desprendemos dele e passamos ao astral, prosseguimos aumentando a consciência no mundo astral, nos desprendemos dos pensamentos aí, passamos ao mental, nos desprendemos dos pensamentos ali e, finalmente passamos ao causal, onde não existem mais pensamentos. O processo vai assim se repetindo, desde o mundo físico até às alturas. Quando os 100% da essência livre (não da essência engarrafada) estão unidos, ela pode fazer frente ao poder fascinatório do Ego e escapar completamente à sua influência, porém não de forma definitiva. Irá adquirir plena lucidez e consciência intensa e absolutamente clara.

Ao nos depararmos com cada pensamento no caminho, seja em que mundo ou dimensão estivermos, temos que buscar a compreensão e não o conflito com o mesmo. Compreendemos um pensamento quando o observamos, o estudamos e descobrimos o que contém. A contemplação imparcial e sincera é a chave. Porém, compreender um pensamento não é entreter-se fascinado, é remover o obstáculo que nos impede de ver o objeto que nos interessa.

Enquanto estamos tentando atingir a etapa da concentração (dharana), perseguimos um único pensamento e transcendemos (por meio do pratyhara) todos os demais pensamentos que atrapalhem. Chega um momento, porém, em que este único pensamento é atingido plenamente e, também ele, se converte em obstáculo para o nosso acesso à realidade que nos interessa. Então, em tal etapa, deixamos este pensamento para trás e começamos a meditação (dhyana).

Enquanto o pratyahara está se aprofundando, ainda não se atingiu plenamente dharana. Quando dharana é plenamente atingida, aplica-se um último pratyahara e se descarta o pensamento final. Cai-se então em dhyana.

Na meditação, não corremos atrás do Ego, não perseguimos os pensamentos. Muito pelo contrário: os vamos abandonando.

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