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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Recordar-se do Ser

Recordar-se do Ser é dar-se conta do que se possui de nobre e digno dentro de si, é lembrar-se desta parte superior e sublime, evocá-La e manter-se unido a Ela. Isso é recordar-se de si mesmo.
A parte boa do homem vem de Deus, portanto, recordar-se do Ser é recordar-se de Deus.
Todos os impulsos bons, superiores e sublimes vêm do Ser e os impulos maus, inferiores e degradantes vêm do Ego. Aquilo que nos prejudica ou prejudica os demais não provém do Ser. É assim que os diferenciamos.
Recordar-se de si é recordar-se do Ser em nós (a Essência), diferenciando-se do Ego. Quem se recorda de si mesmo, se diferencia do Ego e se dissocia de tudo o que não seja o Ser. Então compreende que o corpo físico, as emoções, os pensamentos, as lembranças, as dores, os sofrimentos, as alegrias, os temores, os sentimentos variados, a mente etc. não são o Ser, pois o Ser está além de tudo isso. É assim que adquirimos o pré-requisito para observar o Ego em ação.
Quem não se recorda de si, fascina-se e identifica-se com aquilo que deveria observar, tornando-se cego para si mesmo. Não é possível observar algo com o qual estamos identificados, algo que consideramos ser indistinto de nós mesmos. Se quisermos observar o Ego, temos primeiramente que abordá-lo como um elemento estranho, alheio. Recordemos o exemplo da tábua, dado pelo V.M.S.
Se estivermos sentados sobre uma tábua, não poderemos estudá-la. Para examiná-la, temos primeiramente que nos separarmos, sair de cima da tábua para, então, levantá-la, tomá-la nas mãos e examiná-la. O mesmo sucede com as manifestações dos egos em todos os centros da máquina humana.
Se tomarmos nossos funcionalismos como se fossem partes do nosso Verdadeiro Ser, não poderemos tomar a distância necessária para observá-los criticamente e objetivamente, pois os teremos demasiadamente unidos a nós mesmos. Há que se tomar uma certa distância do Ego para vê-lo em ação. Que Ego é esse? Aquele que responde "Eu!" quando batemos em uma porta e nos indagam "Quem é?"
Esse "Eu" que tanto amamos e que sentimos equivocadamente que somos nós de verdade é que deve morrer. Esse "Eu" que nos desperta tanta piedade, do qual gostamos muito e que sente que deseja, que pensa, que faz e acontece. Esse é o "Eu" que tem que morrer pelas mãos da Mãe Divina, seja aqui ou no abismo. É melhor que seja agora. Se não colaborarmos com Ela, Ela o matará da mesma maneira, porém contra a nossa vontade, no Inferno.
Tal "Eu", que não é o Ser, é múltiplo e não único como nos parece. Quando nos recordamos de nós mesmos, nos dissociamos do Ego e torna-se possível observá-lo, examiná-lo, compreendê-lo e entregá-lo à Morte.
À medida que o Ego morre, o verdadeiro em nós surge, nasce.
A recordação de si é um pré-requisito para a auto-observação. Recordar-se de si mesmo não é somente diferenciar-se do não-ser, é também abrir-se às influências do que há de mais elevado, digno e superior dentro de nós mesmos, é tornar-se veículo do Homem Verdadeiro que aguarda em nosso interior.

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