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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Eus bons e eus inofensivos

Entendo que os detalhes são os eus bons e os eus inofensivos, para os quais não damos importância por terem o caráter prejudicial sutil e de difícil detecção. Para detectá-los, necessitamos de "olho clínico", como disse o V.M.S. em "Dialética da Razão Objetiva". Tais eus muitas vezes não causam dano visível algum e, apesar disso, alimentam elementos psíquicos perigosos.

O caráter prejudicial dos detalhes é sutil, nos escapa à observação superficial. Por serem inofensivos em aparência, acreditamos que não sejam defeitos e não lhes damos importãncia. Damos-lhes livre curso por acharmos desnecessário dissolvê-los, já que não nos parecem prejudiciais.

Portanto, temos que observar nossos comportamentos inofensivos com o intuito de verificarmos se não alimentam defeitos.

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O Ego a ser observado não é somente aquela parte nossa que comete delitos, é tudo o que designamos por "Eu". Inclui tudo o que fazemos, dizemos, sentimos e pensamos, não se limitando àquilo que a moral e a cultura definiram como "errado" ou "feio". O Ego a ser compreendido vai muito além do que a cultura considera "imoral" ou impróprio.

Se não for assim, se a observação não romper com os limites da moral, não se chega aos fundamentos dos defeitos mais perigosos. Os defeitos mais prejudiciais alimentam-se a todo momento por meio de manifestações "inocentes" que são perfeitamente aceitáveis dos pontos de vista social, cultural e moral. Atos e pensamentos que acreditamos ser inofensivos e até benéficos podem estar nutrindo elementos psíquicos altamente prejudiciais e perigosos. O eu da fornicação, por exemplo, se alimenta a todo momento sem que o percebamos. O mesmo se dá com o eu do medo, da gula etc. Somente a observação rigorosa detecta as manifestações que os alimentam.

A sensação de que se está evitando o confronto

No trabalho da morte em marcha, podemos ser tomados pela sensação de que estamos evitando o confronto com o Ego ou de que estamos fugindo dele. Tal sensação procede do fato de que nos ocupamos exclusivamente com os detalhes que circundam o defeito e evitamos o confronto direto com o núcleo.

Quem é observado

Quando nos observamos, é importante não esquecermos que o "Ego" é nossa própria pessoa, embora não seja nossa essência, e corresponde a praticamente tudo o que nos proporciona a sensação de "Eu".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Eus que se reforçam

Aquele que reprime o Eu não consegue observar o enfraquecimento que
vai acompanhando as petições por sua morte.
Muitas vezes um defeito se fundamenta em valores aparentemente
distintos e até opostos à sua meta . Ex. uma forte excitação sexual
pode se fundamentar (ou ser reforçada) no medo ou até no ódio. Cada ego possui sua
lógica própria que necessitamos descobrir e compreender. É um
sentido ou lógica que costumam diferir do que entendemos por
coerência. Uma situação perigosa, por exemplo, poderá excitar
sexualmente algumas pessoas cujo defeito associe perigo ao valor
sexual do ato. Os exemplos e variações desta tendência são
infinitos.
Um desejo pode estar apoiado em outro com o qual não tenha nenhuma
relação aparente.

domingo, 15 de novembro de 2009

Compreendendo os prejuízos dos defeitos

Compreender um defeito é dar-se conta de sua ridicularia e de seu caráter absurdo. Sob estado de identificação, consideramos os defeitos úteis, benéficos e até indispensáveis, apesar de todos os seus efeitos destrutivos sobre nossa vida e nossa alma. Os prejuízos ficam excluídos do campo de nossa pobre e adormecida consciência, durante o estado de identificação. Identificados com os desejos e pensamentos, nos tornamos ignorantes a respeito dos danos ocasionados pelos defeitos. À medida que avançamos na compreensão, mediante a auto-observação rigorosa e a morte em marcha, vamos nos dando conta de quão ínúteis e perigosos são os egos.Identificar-se com um defeito equivale a distorcer a cognição, a perturbar o entendimento. O entendimento, sob a ótica dos egos, se torna enviesado, tendencioso e condicionado. Tal classe de entendimento nos leva a concluir que os agregados psíquicos são importantes.Uma pessoa obsessionada por um desejo ou sentimento negativo não pode ser considerada sã. Está louca, pois perdeu a capacidade de julgar com clareza. Por isso o V.M.S. diz que "sua consciência se processa em função do seu próprio embotelhamento". De fato, a consciência, ou inteligência, do adormecido se processa de modo condicionado, isto é, tendencioso, subjetivo e unilateral. Aquele que está obsessionado pela luxúria, inveja, ódio etc. acredita, em tal estado lamentável, que os pensamentos, impulsos, comportamentos e desejos que está tendo lhe trazem benefício, satisfação etc.Quando aprendemos a retirar as causas (detalhes) que originam as manifestações mais pesadas dos egos, aos poucos os vamos compreendendo e percebemos, de fato e não por simples associações intelectuais, seus prejuízos sobre a nossa vida.

Rompendo a cadeia de manifestações

Antes que um defeito "se carregue" (V.M.R.) sobre algo ou alguém (uma dama, por exemplo), outras manifestações, com menor gravidade, o antecederam e se encadearam em uma sequência que conduziu até aquele estado. A partir de manifestações sem gravidade alguma, originam-se outras manifestações, com gravidade maior. As várias manifestações, em sequência, formam uma cadeia cujo término é a manifestação do defeito propriamente dito (obsessão), cuja gravidade pode ser alta e do qual almejamos nos livrar. Um erro comum que nós, estudantes e aspirantes, cometemos consiste em não darmos importância às manifestações antecedentes e em tentar enfrentar o defeito "já carregado", isto é, já fortificado e em plena manifestação. Tal erro se deve à ausência de gravidade das manifestações comuns, do ponto de vista kármico. Como essas manifestações não nos parecem tão graves e não nos preocupam, não lhes damos importância e lhes damos curso livre. O resultado é, então, a fortificação dos defeitos considerados "perigosos" e nossa consequente impotência ao tentar enfrentá-los.Comportamentos que consideramos inocentes, inócuos e desprovidos de quaisquer relações com os defeitos propriamente ditos podem, na verdade, ser facetas pelas quais os mesmos se nutrem. A estratégia correta consiste em identificar essas múltiplas facetas, flagrando-as em plena manifestação. Ignorá-las e tentar enfrentar diretamente o defeito poderoso é um erro estratégico pois isso seria o mesmo que tentar enfrentar um inimigo sitiado que está recebendo munições e provisões diariamente. O que pensaríamos de um estrategista de guerra que quisesse tomar uma fortaleza, mas permitisse que seu inimigo recebesse provisões, armas e homens constantemente, não dando importância para tal fato por considerá-lo de "pouca gravidade"? Certamente, o consideraríamos estúpido. Ao permitir que armas, provisões e guerreiros entrassem constantemente na fortaleza, o desventurado estrategista estaria fortificando o inimigo que almejaria combater. Seus esforços seriam inúteis. E é exatamente isso o que muitos de nós fazemos quando queremos tomar posse de nossa fortaleza, isto é, de nossa casa interior. Tentamos desalojar os invasores, mas permitimos que eles recebam reforços.Uma coisa é a gravidade kármica de um ato. Outra coisa, completamente distinta, é a estratégia para dissolver um defeito. Atos sem nenhuma gravidade kármica aparente podem ser o caminho para fortificação e manifestação de atos de altíssima gravidade. Tentar reprimir os atos graves, quando já estão "carregados" de energia, é anti-estratégico. O que se deve fazer é despotenciá-los ou, melhor ainda, evitar que se "carreguem", dissolvendo os comportamentos inocentes que os energizam.Evitamos que um defeito altamente prejudicial e perigoso se carregue com energia quando dissolvemos os atos inocentes e inócuos que lhe abrem caminho. É sobre tais atos que a auto-observação deve se dar rigorosamente.Tudo aquilo que fazemos, pensamos e sentimos deve ser vigiado rigorosamente. Entendo que nos comportamentos inócuos está a chave. Comportamentos inócuos podem consistir em canais de reforço energético que fortificam comportamentos perigosos e indesejáveis. E tais canais são insuspeitados, motivo pelo qual os V.M.s os qualificam acertadamente como "sutis". Por isso dizem que "o mal se refina". Os comportamentos inócuos, isto é, aparentemente inocentes, devem ser alvo de um escrutínio rigorosamente sincero que nos permita descobrir se os mesmos fortificam comportamentos perigosos. Por "comportamento", estou me referindo à manifestação do ego em todos os cinco centros, pois quem não o observa em todos os cinco centro não descobre nada ou descobre muito pouco.Dissolvendo os comportamentos inócuos condutores de reforço, rompemos a cadeia de manifestações que vai abrindo passagem para a invasão dos defeitos perigosos.Um exemplo específico ajudaria muito aqui. O desejo violento de um homem por uma mulher (ou por todas as mulheres bonitas que lhe passem na frente!) possui um núcleo, constituido pelo desejo de fornicar propriamente dito, e algo que poderíamos comparar a uma "periferia", constituída por múltiplas manifestações, aparentemente não luxuriosas ou pouco luxuriosas, que energizam o núcleo. Os psicólogos chamam a este conjunto de "complexo", por ser um amplo sistema, ou de "agregado psíquico", por constituir um agregado de energias. Embora pareçam não causar prejuízo algum, as manifestações não luxuriosas estão voltadas para o núcleo e para ele conduzem suas forças, robustecendo-o cada vez mais. Debater-se contra o núcleo é uma perda de tempo porque, ao fazê-lo, deixamos de nos ocupar com a periferia, que é por onde realmente fluem as forças que o robustecem. No caso específico da luxúria, que é o nosso exemplo, do núcleo poderiam fazer parte: o desejo de copular, de beijar, de pegar nos cabelos e também tudo aquilo que a imaginação morbosa for capaz de conceber. Da periferia poderiam fazer parte: atos amistosos, elogios, gentilezas e tudo o que, aparentemente, for desprovido de sentido luxurioso, mas que se revelam voltados para a luxúria quando examinados mais de perto. A gama destes últimos comportamentos é quase infinita. O interessante é que os mesmos não opõem muita resistência ao poder da Mãe Divina, sendo rapidamente incinerados por Ela, às vezes imediatamente. Em alguns casos, entretanto, requerem um fogo mais poderoso: a petição durante o maithuna.
A morte de um defeito é, portanto, a resultante natural (e não forçada) da adoção de uma linha de trabalho correta. É por isso que se diz que morrer não é reprimir. Como posso reprimir aquilo que está morrendo? Se algo está morrendo, não se faz necessário reprimir.
Imaginemos que você, leitor, esteja agora mesmo com uma mulher para fornicar. Como as coisas chegaram até este ponto? Se você revisar os acontecimentos, verá que houve uma sequência de atos que se associaram no tempo, um após o outro, até você chegar ao deplorável ponto em que está. Se retroceder bastante, constatará que os "primeiros passos" que o conduziram a esta situação eram desprovidos de caráter delituoso ou luxurioso. Os atos, pensamentos e sentimentos vão se sucedendo e se articulando em uma corrente temporal, até culminarem no problema propriamente dito. Evitamos o problema evitando os fatos que o antecedem, cortando o mal pela raiz.

domingo, 8 de novembro de 2009

Morte do Ego - recomendações

Reagindo aos primeiros pensamentos

Na morte em marcha, corta-se a ação do defeito ao primeiro pensamento, sentimento ou ação sutil, não dando-lhe tempo de apoderar-se de nós.
Corta-se a ação do defeito pela súplica e não pelo mero "esforço para deixar de sentir o que se está sentindo", como todo mundo pensa e apregoa por aí. O defeito tem sua ação interrompida pela força atuante da Mãe Divina e não pelo emprego direto de nossa (débil) vontade no sentido de não desejar, não pensar ou não agir. O emprego da vontade nesse sentido apenas se destina ao uso dos percentuais livres de essência nos âmbitos em que se tenha livre arbítrio. Não há lógica em tentar fazer o uso do livre arbítrio (capacidade de não fazer, não pensar ou não sentir) em circunstâncias dentro das quais há condicionamento. Neste último caso, o mais sensato é empenhar-se primeiramente em adquirir a liberdade interior, para somente então fazer uso da mesma.
Aquele que tenta reprimir seus defeitos, moldando-se à força bruta, está tentando desfrutar de uma liberdade que em realidade não possui. É correto moldar-se, porém mediante a estratégia correta e não mediante esforços equivocados.
Especificamente, a vigilância sobre os pensamentos é indispensável, visto que "a mente é a guarida do desejo" (não me lembro a fonte desta citação).

Sobre "não começar"

Se realmente vigiarmos os nossos pensamentos, podemos prolongar por tempo indefinido os raros momentos de paz interior e pureza espontâneas.
Um dos segredos, na morte dos defeitos, é "não começar": não começar a pensar, não começar falar e não começar a fazer as besteiras.
Na morte do ego, um dos segredos fundamentais é esse de "não começar": não começar a pensar e não começar a fazer o que não se deve. Sempre que "começamos", não conseguimos mais nos livrar daquilo que acordamos. É mais fácil evitar dar a partida do que parar o carro a cem quilômetros por hora.
Corte todas as formas de alimentação do desejo que você quer eliminar. Toda lembrança, toda fala, todo ato, todo olhar, tudo! Morra! Que aquilo não exista mais para você!
Nos casos mais graves, você deve mesmo evitar totalmente a presença e a proximidade do objeto desejado. Isso não é fugir do enfrentamento e nem reprimir. É descobrir canais de alimentação que antes eram inconscientes, é encontrar formas inconscientes de nutrir o defeito e removê-las.
Corte absolutamente tudo e nos conte os resultados. Preste atenção nos detalhes pequenos do seu comportamento, formas disfarçadas e sutis de nutrir defeitos.

Ver e não teorizar

Olhemos para nós mesmos e não pensemos sobre nós mesmos. Se não enxergarmos nada, que não preenchamos a lacuna cognitiva com elocubrações e teorizações a respeito do ego.
Observar as emoções é tentar enxergar seus conteúdos e não racionalizar ou teorizar sobre os mesmos. As conclusões devem advir a posteriori.

Evitar ginásios insuportáveis

Convém evitar o contato com ginásios que não suportamos. Há graus e graus de dificuldade nos distintos ginásios. Ginásios que não suportamos atualmente devem ser encarados somente no futuro, quando estivermos preparados. Portanto: evitemos ginásios extremos.
Não procuremos ginásios difíceis: deixemos que as hierarquias e as partes internas nos guiem para eles.

Não enveredar pelos caminhos do erro

Fracassamos porque enveredamos diariamente pelos caminhos propostos pelos egos (pensamentos e imaginação mecânica). E enveredamos por tais caminhos porque subestimamos os perigos psíquicos. Acreditamos que pequenos erros não fazem mal.

Intenções por trás dos atos

Todo grande defeito se alimenta por comportamentos que parecem ser inocentes e aparentam não ter nenhuma relação com ele. Atos aparentemente desprovidos de qualquer caráter delituoso podem se revelar como meio de nutrição de defeitos quando suas intenções são melhor investigadas.
Um mesmo ato poderá estar ou não alimentando um defeito, tudo dependerá da intenção oculta com que é realizado. Os atos que reforçam os egos são os atos facilitadores de sua satisfação. Qualquer ato que facilite a realização das metas de um ego o estará fortificando, ainda que de forma não intencional. O trabalho consiste em encontrar esses atos facilitadores (os "detalhes" do V.M.R.) e eliminá-los, não com o esforço repressor, mas sim com a força da Mãe Divina.
Os defeitos se fortificam pela satisfação. Quanto mais satisfeitos, mais fortes se tornam e mais nos tiranizam. Qualquer ato, por mais "bobo" que seja, pode estar facilitando ou conduzindo à satisfação de um defeito e precisa ser dissolvido enquanto vai sendo observado.
A pessoa que passa a remover os detalhes pode ter a sensação de que está "fugindo" ou "evitando se confrontar" com os defeitos. Tal idéia é equivocada e tem sua origem nos mecanismos repressores da cultura, os quais nos levam a tentar nos opor aos desejos (enfrentar "em bruto", como diria o V.M.R.). Na verdade, a pessoa que se ocupa em descobrir e remover os detalhes está conhecendo o defeito grande pouco a pouco, já que tais detalhes são as múltiplas facetas do ego que alimentam.

Identificando sutis manifestações do Ego

Ações insuspeitadas podem estar alimentando defeitos, daí a necessidade de observarmos o que fazemos.
A vigilância rigorosa sobre os atos permite-nos descobrir se os mesmos estão alimentando algum elemento psíquico indesejável.
Cada ato que tenhamos pode ou não conduzir ao reforço de um agregado psíquico. Temos que tomar consciência dos atos que reforçam defeitos. Os vários atos relacionados a um defeito são as múltiplas facetas deste mesmo defeito.
Discernimos se um ato é ou não faceta de um defeito pelas metas, intenções, emoções e pensamentos que o acompanham. Para onde aquele ato aponta? Quais são os seus resultados? Se os resultados de um ato forem a satisfação de um ego, podemos concluir que o mesmo é um de seus detalhes. Além disso, as emoções e pensamentos que acompanham um ato também podem denunciar seu caráter egóico.
Durante o dia, temos milhares de pequenos atos inconscientes que nutrem defeitos dos quais temos consciência de que existem. De modo que não basta ter consciência da existência de um defeito: temos que tomar consciência dos múltiplos atos que o reforçam, de seus múltiplos detalhes ou facetas.
Trabalhar com os detalhes é trabalhar com as causas, no nível tridimensional, da manifestação dos defeitos. No nível físico, um defeito leva à manifestação de outros, em uma sequência cujo encadeamento necessita ser conscientemente percebido.
A auto-observação, ao realizar sobre todos os cinco centros, e não apenas sobre um ou outro, permite-nos vigiar nossos atos e descobrir emoções, pensamentos e reações instintivas que os acompanham. Permite-nos ainda descobrir como reagimos perante as circunstâncias em todos os cinco centros.

Outras recomendações:

Contemplar-se, vigiar.
Reagir com oração (e não com tentativas de sufocar os desejos).
Refinar a observação ao extremo.
Buscar o pequeno, o sutil. Ser detalhista.
Orar todas as vezes que as sutis manifestações voltem.
Não permitir que as manifestações cresçam. Não deixar que se alimentem e nem que tomem força. Impedí-las de se arraigarem em nossa personalidade. Cortá-las tão logo comecem, assim que principiem a brotar.
Evitar que role a primeira pedra, para que não ocorram avalanches.
Não dar asas aos pensamentos e nem à imaginação mecânica.

Reprimir não é eliminar e é desnecessário

Quando se trabalha com a oração e a dissociação (não-identificação), a repressão dos desejos se torna desnecessária porque a Mâe Divina corta a ação dos defeitos, sem necessidade de que o reprimamos. Reprimir é, portanto, um sintoma de que a prática da morte não está correta. Se você necessita se reprimir e resistir aos seus desejos, isso indica que sua prática de Morte está errada e necessita ser corrigida.

Quando o V.M.S. e o V.M.R. usam as expressões "combater os defeitos", "estar em alerta contra si mesmo", "disciplinar-se", "não alimentar os defeitos", "matar o desejo e a sombra do desejo" etc. não estão se referindo a nenhuma forma de repressão e sim ao trabalho de não nos identificarmos e de apelar ao poder da Mãe Divina. Os V.M.s jamais ensinaram que o estudante deveria resistir aos desejos e sim que deveriam enfraquecê-los e matá-los por meio do poder da Mãe Divina. A tarefa de enfraquecer e matar não é nossa, pertence à Mãe Divina. Fazer esforços para "não sentir o que se sente" é tentar usurpar a função dEla. Suspeito que os gnósticos entenderam a morte do ego de forma errônea neste pormenor.

Quando deixamos de nos reprimir e observamos a nós mesmos (em nossos centros) como a um sujeito estranho, os egos começam a ser percebidos aos montes. E se pedimos à Mãe Divina, mantendo a recordação de nós mesmos e evitando a identificação com esses defeitos, vemos que rapidamente eles perdem força como por um passe de mágica, sem que necessitemos fazer mais nada. Nenhum esforço para reprimí-los é necessário pois a Mãe toma a dianteira e os mata. Os defeitos gradualmente perdem força, se enfraquecem por si mesmos sob a atuação dEla.

Embora necessários para quem não conhece a dissolução do Ego, os mecanismos repressivos atrapalham a prática da Morte.

Entendamos que o Ego a ser morto e´a nossa própria pessoa, com tudo o que nos é querido. Esta pessoa , que nos é tão cara, é múltipla e se manifesta através dos cinco centros da máquina. A transformação virá quando observarmos esta pessoa em ação, admitindo e aceitando aquilo que resistimos em admitir. Ex. um homem pode resistir teimosamente em admitir para si mesmo que possui medo de algo por ser o medo uma característica feminina e, portanto, algo vergonhoso. Quando for assaltado pelo medo, tal homem tentará sufocá-lo dentro de si, tentará resistir ao sentimento invasivo e sofrerá. Mas, se tiver coragem de admitir este sentimento indesejável, poderá imediatamente observá-lo sem identificar-se e pedir por sua morte. O resultado será um alívio que se aprofundará se ele insistir nessa prática. Uma parte dele mesmo terá sido morta, isto é, transformada pois a morte é a transformação.

Aquele que reprime seus defeitos não crê que sua Mãe Divina os está desintegrando. Se peço e tenho fé, não tenho necessidade de recalcar nada. Ao contrário: removo minhas resistências ao desejo e observo seu progressivo enfraquecimento e diminuição á medida em que suplico por sua morte.

Remover a resistência ao desejo não é o mesmo que identificar-se. Remover a resistência é tão somente não opor ao desejo um contra-desejo (o desejo de não desejar).

Aquele que remove a resistência e, ao mesmo tempo, não se identifica, protege-se da obsessão. Aquele que remove a resistência e se identifica, torna-se incapaz de livrar-se do desejo. Observar, não se identificar e orar são peças fundamentais na Morte do Ego.

A identificação fortifica o defeito, escravizando-nos mais e mais.

Os mecanismos de repressão consistem em se fazer um esforço de vontade para não desejar quando se está desejando. É uma tentativa de não sentir o que se está sentindo. Indica desconfiança em relação ao poder da Mãe Divina. Aqueles que reprimem sentimentos e desejos costumam sentir um aperto ou sensação de mal estar no peito. Impulsos reprimidos geram doenças, pois os egos recalcados não desistem de buscar suas passagens para manifestação.

Os mecanismos de repressão foram desenvolvidos por nossa cultura ocidental como forma de conter os efeitos destrutivos dos desejos que conflitam com os valores morais e regras de conduta. Entretanto, tais valores e regras também são outras formas de desejo. Os mecanismos de repressão são forjados por eus bons. São úteis para quem não trabalha na Morte e prejudiciais para quem a realiza, por não permitirem a observação dos defeitos em ação.

Se não permito a manifestação de um defeito, como irei observar sua manifestação? E se não observo sua manifestação, como irei compreendê-lo?

É correto cortar a ação de um ego mediante a não-identificação e à oração. É incorreto tentar cortar-lhe a ação mediante um esforço de resistência ou simples tentativa de "não sentir nada". Temos que diferenciar ambas as coisas. Resistir aos defeitos foi o que sempre fizemos até hoje, sem resultado algum para a Morte. Temos que ir além da resistência inútil. Pedir, observar, orar e romper com a identificação não são o mesmo que resistir e não exigem nenhum tipo de recalque.

Importante: temos que refinar a observação e cortar a ação dos defeitos muito antes que aumentem sua ação sobre nós e nos obsessionem, temos que nos antecipar às obsessões, observando-nos de instante à instante.

Esclarecimento adicional

Como deve ter ficado claro, por "reprimir" devemos entender: sufocar, bloquear, simplesmente tentar não sentir, "forçar a barra" contra as próprias emoções. O desbloqueio à repressão a que nos referimos é o desbloqueio emocional. O bloqueio a ser removido é o bloqueio das emoções e não a relutância em cometer atos. É importante que isso fique claro. Evitar reprimir não é satisfazer o desejo, pois isso nos escraviza ainda mais, é somente remover o bloqueio das emoções, para que possams vê-las com mais clareza.

Este ponto tem gerado muita confusão entre os estudantes do gnosticismo. Entendo que o auto-controle por meio da vontade somente pode e deve ser exercido nos campos em que já se conquistou o livre arbitrio, sendo uma perda total de tempo tentar exercê-lo nos campos em que ainda não se o conquistou. Neste último caso, o poder da vontade deve ser empregado de outra maneira.

Deixemos as tarefas do enfraquecimento progressivo e da morte dos defeitos com a Mâe Divina e nos ocupemos unicamente com a observação e súplica. O defeito não morre por nosso próprio esforço, mas pela atuação de um poder superior a nós. Nos limitemos a cumprir bem nossa parte: observar, encontrar, compreender, pedir com fé, sem dúvida. Deixemos para a Mãe o esforço para deter os "eus".

A verdadeira morte do Ego não é o aumento dos conflitos internos, mas sim sua diminuição. Morrer não é agredir a si mesmo, nem violentar as próprias emoções e nem entrar em conflito com os desejos.

Reprimir é bloquear, não reprimir é desbloquear. O desbloqueio não deve servir de desculpa para nos identificarmos e nem para satisfazer e alimentar os desejos.

Não reprimir significa simplesmente desbloquear as emoções para observá-las, não significa satisfazer os desejos, nem fazer o que dá vontade, sem freios.

Deixe a força avassaladora do instinto em seu curso, não se ocupe com ela, não tente revertê-la. Ocupe-se com a tarefa de retirar-lhe o alimento.
Você deseja algo proibido e moralmente reprovável? Não se ocupe com esse desejo em si, deixe-o de lado e se ocupe com seus detalhes ou facetas. Observe as formas sutis de manifestação desse desejo, as coisas pequenas que você faz, pensa, sente e que dão força ao defeito em questão. Não reprima as manifestações sutis, observe-as, descubra-as e ore pela eliminação. Ao mesmo tempo, mantenha-os separados de si mesmo e não se identifique. Delegue o trabalho da morte dos elementos descobertos a uma força maior.

Esforço correto que evita um erro

Nós, gnósticos, cometemos um erro: tentar atrelar o ensinamento sobre a morte do ego às idéias preconcebidas que nos foram inculcadas pela educação religiosa na infância, particularmente no que se refere a "tentar não sentir" o que se sente. Diante dos impulsos violentos dos egos, nos acostumamos a fazer esforços para "tentar não sentir" o desejo.
A educação religiosa teve sua utilidade em seu tempo, porém, quando adentramos a um ensinamento revolucionário, a mesma passa a ser um estorvo, como um barco após atravessarmos o rio: não faz sentido continuarmos presos ao barco após realizarmos a travessia.
A principal consequência negativa dos inúteis e equivocados esforços para "não sentir" o que se sente são as neuroses e desvios comportamentais. Uma vez represada, a libido não transmutada (não transformada) não deixará de existir, forçará passagem por outros caminhos originando doenças físicas e psíquicas.
Não é muito fácil clarificar o que pretendo aqui. Estou afirmando que o ato de reprimir os desejos é tão prejudicial quanto o ato de dar-lhe livre curso. Quando nos entregamos ao desenfreio hedonista, os desejos se fortificam e aumentam progressivamente seu poder sobre nós. Por outro lado, quando os reprimimos, eles forçam passagem, geram problemas emocionais ou, subitamente, nos fazem "descontar o tempo perdido". Precisamos então de outro caminho, outra estratégia, outra linha de ação.
O emprego equivocado da vontade (esforço incorreto), resultará em fracasso. Na morte do ego, temos que aplicar a disciplina, a vontade, a determinação, o rigor e o superesforço da forma correta. Basicamente, temos que aplicá-los da seguinte maneira: 1) para evitar a identificação com os defeitos; 2) para nos observarmos com o maior detalhamento e sinceridade possíveis e 3) para orar, pedindo a Morte à Mãe Divina.
Aquele que reprime os defeitos, tentando "não sentir" o que sente, sufocando os seus sentimentos, demonstra com tal atitude que não confia no poder da Mãe Divina para a desintegração. As intenções podem ser boas, mas os efeitos são desastrosos. Está correto tentar cortar a ação do defeito taõ logo o detectamos, mas tal interrupção é feita pela atuação da Mãe Divina dentro de nós e não por um simples esforço de vontade. Entendo que tentar barrar a ação dos defeitos por meio da vontade, e não por meio da oração, é um esforço equivocado, ainda que bem intencionado. Logo, necessitamos corrigir este equívoco.
O erro não está em tentar cortar a ação do defeito tão logo a percebemos. Está em tentar fazê-lo de uma forma errônea: reprimindo. Substituamos a repressão pela oração e observemos os resultados.
Reprimir um defeito é tentar sufocá-lo, é fazer um esforço para não sentir ou para não desejar, é opor a um desejo o desejo de não desejar. Por trás dos mecanismos de repressão estão egos. Ex. um ego pode desejar não ter luxúria ou livrar-se da fornicação por medo de suas consequências físicas e espirituais.
A verdadeira morte é outra coisa, não é uma simples sufocação de desejos. É uma transformação real das forças que fluem interiormente, uma transmutação dos defeitos em virtudes, dos desejos em liberdade (livre-arbítrio interior).
Separar-se (não identificar-se), observar e orar são três elementos fundamentais para a Morte.
Obviamente, a aplicação desses três elementos que acabo de apontar não deve tardar. A auto-observação deve ser minuciosa, detalhista, em busca de manifestações sutis. À primeira manifestação detectada, temos que orar por sua eliminação e aguardar. Não há porque sermos negligentes e relapsos. O relapso não corta a ação dos defeitos mediante a oração e permite que intensifiquem o poder sobre sua personalidade. Quanto antes cortarmos a ação de um ego, melhor. Porém, temos que fazê-lo mediante a oração e não mediante o esforço repressivo.
Aquele que confia no sagrado poder destruidor da Mãe Divina, ora e aguarda confiante, enquanto contempla sua divina ação dissolucionante sobre o elemento indesejável. Desenvolverá a fé por experiência direta e a dúvida terá cada vez menos espaço dentro de si.